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A Precarização do Trabalho de quem atua no Audiovisual.

  • Foto do escritor: Reynaldo Barreto Lisboa
    Reynaldo Barreto Lisboa
  • 14 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 18 de out. de 2023

A popularização das novas mídias e dos smartphones e a democratização promovida pela digitalização dos meios audiovisuais estão a precarizar o trabalho para quem atua no setor corporativo.

Cinegrafista com equipamento audiovisual
As câmeras digitais democratizaram a produção audiovisual.

Em minha atuação como consultor de Marketing, sempre aconselhei aos clientes a utilizarem o recurso do audiovisual em suas estratégias de promoção e/ou capacitação. A algum tempo atrás, antes mesmo do "boom" das novas mídias, isto corresponderia a um impacto significativo no budget do Marketing do negócio. Ainda assim, a relação custo/benefício era favorável pela eficácia desta ferramenta, quando bem utilizada. Mas, com a digitalização da tecnologia dos equipamentos de captura de imagem e com a popularização dos smartphones, o custo destes serviços tornaram-se, em um primeiro momento, bastante acessíveis. Hoje, com o surgimento de uma "nova profissão" - produtor de conteúdo - demandada pelas plataformas das redes sociais YouTube, TikTok e Instagram, esse custo pode ser próximo a zero.


Isso é bastante saudável e não enxergo aí o problema da precarização do trabalho de quem atua no setor. O problema está, propriamente dito, no mercado de trabalho. Vou te dar um exemplo:


No período de 2002 a 2016, atuei como consultor de Marketing, Diretor e Roteirista de Audiovisual em agências e produtoras em Angola - África. Em nossa carteira de clientes estavam as gigantes do setor petrolífero e órgãos do setor público. A demanda pelo produto audiovisual, tanto para a promoção institucional, promoção de marcas, produtos e serviços, quanto para capacitação e para atender as exigências das agências certificadoras (ISO), era enorme. O serviço era prestado tendo em conta todas as etapas da produção de um vídeo. Basicamente: briefing, criação do roteiro (guião), produção - segundo as necessidades impostas pelo roteiro -, captação das imagens, edição e finalização. Para cada etapa existia um, ou mais profissionais, especialistas para cada função: roteirista, produtor, assistente de produção, cinegrafista, assistente de câmera, operador de áudio, produtor de set, atores, editores, entre outros, de acordo com a necessidade de cada produção. Assim, trabalhei com profissionais competentes, com experiência e atuação no setor reconhecidas, e além disso, atuação no mercado angolano e conhecedores das particularidades e especificidades daqueles clientes. Esta expertise, sem dúvidas, impactava positivamente e grandiosamente, a qualidade do produto final. Muito diferente de você pegar o seu smartphone e fazer um vídeo para as redes sociais.


A Precarização se dá, em todas as profissões, porque o preço superestimado da "coisa" se sobrepõe ao valor do trabalho!

Mas, o que vejo hoje são empresas explorando profissionais e reduzindo seus quadros, contratando o chamado videomaker. O "Severino" da produção audiovisual. O que antes era feito por diversos profissionais especializados, hoje é feito por um e, nem sempre especializado. E o profissional que precisa trabalhar, acaba por aceitar as condições. Os ofertas de vagas são ridículas:


precisa-se de um técnico em audiovisual - genérico demais, não é? -.

requisitos: experiência mínima de 5 anos na área, que saiba fazer vídeos, fotografar, domine as ferramentas de edição de imagem (photoshop, adobe premier, after affects, final cut, coreldraw, ilustrator...), faça modelagem em 3D, animação e efeitos especiais, que domine o exccel e tenha experiência em mídias sociais: SEO, tráfego, métricas, KPIs... Fluência na língua inglesa, falada e escrita. Salário à combinar.


O que o mercado tem buscado não é um profissional capacitado e sim alguém que faça várias funções pelo preço de um. Em consequência disso, a redução de postos de trabalho e a desvalorização - Eu me esforço para acreditar que a "glamourização" do profissional multitarefas não seja uma maldosa estratégia de desvalorização do trabalhador -. É aí que está a precarização do trabalho; na falta de qualificação e consequente desvalorização do profissional. A precarização se dá, em todas as profissões, porque o preço, superestimado, da "coisa" se sobrepõe ao valor do trabalho! O que é incoerente, já que a "coisa" é o produto do trabalho e o trabalho é o resultado dos esforços do trabalhador.


Solução? Difícil! Quase impossível. Pois a solução, nesse caso, passa pela conscientização, pela humanização, valorização, direitos, dignidade, empatia. Tudo isso, assim como o PROFISSIONAL do audiovisual que atua na área corporativa, corre sério risco de extinção.


Antes de terminar. Agora, escrevendo, lembrei-me da parceria de anos que estabeleci com um desses profissionais competentes, comprometidos, especialista em sua função e que através da sua atuação enriquece o produto final; o cinegrafista, diretor de fotografia e editor Jean Nadson (JN Filmes). Fizemos vários trabalhos juntos - publicidade, documentários institucionais, campanhas, vídeos de treinamento e briefings de segurança... -, atendemos diversos clientes, viajamos por diversas províncias angolanas a capturar imagens fantásticas, rostos, emoções e a mostrar o caminhos percorrido por Angola, no pós-guerra, para o seu desenvolvimento. Juntos, vimos a transformação do país, que se reerguia, e de sua gente. Ele, ainda mais do que eu pois, permaneceu lá por um período em que retornei ao Brasil para curtir o nascimento e os anos iniciais do meu filho. Felizmente, Jean Nadson, é um sobrevivente. Se reinventa, amplia seu repertório de atuação, se capacita cada vez mais, utiliza todo know-how adquirido nas andanças por África e pelo Brasil e continua a fazer trabalhos fantásticos com a sua produtora, em Pernambuco, na Bahia, em São Paulo e aonde mais for solicitado. Recordando esse parceiro, homenageio a todos os outros com quem tive o prazer de trabalhar e me solidarizo com todos os profissionais do setor.


Consultor de Marketing na Arquearia Comunicação

Reinaldo Barreto Lisboa atua desde 2004 na área da Comunicação Corporativo. É Diretor, Analista de Planejamento Estratégico, Redator e Roteirista na Arquearia Comunicação Estratégica, além de ser ator, diretor e dramaturgo. É Licenciado em História e MBA em Gestão Estratégica em Marketing Digital.

 
 
 

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